Pra falar de amor... (1)

terça-feira, 25 de agosto de 2009 | |

Falar de amor pode ser uma das coisas mais fáceis para qualquer pessoa; seria possível passar horas e horas descrevendo as facetas do amor, justificando a necessidade de amar e audaciosamente demonstrando a insubordinação a qual nós estamos sujeitos. Mas o que ninguém conseguiria fazer, nem com mil anos de tempo, nem com o domínio de todas as palavras, nem muito menos com o auxílio de uma sofisticada matemática – levando em consideração a possibilidade de demonstração pelas vias da lógica - seria descrever o amor como ele de fato se apresenta e como o sentimos.

Descrever o ápice da embriaguez abstrata seria uma audácia que só poderia ser ansiada por um verdadeiro pedante. Mesmo assim é intrigante. O que é o amor? É aquela incontrolável necessidade do outro que parece mais uma rejeição de si mesmo e que só se farta quando o ser amado corresponde e dá sentido à palavra a que é atribuída essa sensação? É estranho por que na medida em que utilizamos as palavras elas soam vazias e insuficientes para descrever esse sentimento. Até a palavra “sentimento” é inapropriada. Talvez as palavras faltem, não existam para definir justamente por que o amor é um reflexo da nossa insuficiência; é um fato que se mostra quando nos enchemos de nós mesmos, na tentativa de completar o ego com uma natureza incompleta, e então... Ele se mostra e nos mostra que nós mesmos somos insuficientes no espaço fechado da nossa existência, e mesmo sem o nosso consentimento se faz real, e tão real que aperta o peito, faz um bolo na barriga e nos coloca diante da necessidade; faz-nos reconhecer que somos necessitados daquilo que amamos.

“Amar é querer estar perto se longe, e mais perto se perto”

Já dizia Vinicius de Moraes que utilizou a idéia cartesiana de espaço mensurável para tentar justificar o ato de amar. Querer estar perto se longe é obvio, mas querer estar mais perto cada vez que se está perto parece uma contradição; pode parecer impossível estar mais perto quando se está perto, mas é possível. Assim como se tornou possível dois corpos ocuparem o mesmo lugar no espaço. Se o amor torna o incompleto em completo, o insuficiente em suficiente, talvez Vinicius estivesse apenas tentando apresentar o ato de amar com palavras que nem mesmo ele sabia se serviriam; como já vimos anteriormente, não há palavras que possam expressar com veemência o amor e o “estar amando”.

Mas... O que é o amor? O efeito provocado, tendo ele como uma causa mesmo que abstrata, é facilmente identificado como já vimos. Alguns foram indiferentes ao romantismo na tentativa de definir o amor, como Raul Seixas, que dizia:

“O homem que não chora não ama, mas o que chora é um imbecil”

Ora... Se o homem que chora é um imbecil, e só quem chora é quem ama, então quem ama é um imbecil. Logo, o amor é uma grande imbecilidade. É difícil ter que reconhecer que o "nobre" Raul errou. Ele confundiu o amor com o sentimento da paixão, dessa forma é até incoerente tentar encaixar o termo “paixão” em sua frase, ficaria ridículo. Talvez o levássemos em consideração se ele tivesse declarado que a “paixão é uma imbecilidade”, simplesmente por que é notório observar mesmo que seja com um leve vento de coerência que a principal evidência de quem estar tomado de paixão, ou seja, de quem está apaixonado, é o “abobalhamento”.

Quem nunca ouviu a máxima que diz: “o amor é cego”. Rubem Alvez diz que, não é o amor que é cego, é a paixão. E eu concordo com ele. O apaixonado fica bobo, besta, cego, apedeuta, tosco e irracionalmente aéreo. O amor não, é sentido como um paradoxo entre a força da evidência do que se sente e da maleabilidade do sentimento ante as necessidades do ser amado; para suprir a necessidade que o amor possui de se doar, de expandir. Os amores não se contem em si mesmo, só acontece de um para o outro na condição de uma recíproca incontestavelmente verdadeira.

Há também os mais pessimistas, como o Cazuza, declarando:

“O amor é o ridículo da vida, agente procura nele uma beleza impossível, uma pureza que está sempre se pondo... Indo embora”

Uma beleza impossível? A beleza não é uma possibilidade no amor, não é uma questão determinada por probabilidades e, se não houver beleza no amor esse amor deixa de ser amor e passa a ser qualquer outra coisa. Mas quanto à pureza, realmente é um termo questionável diante da existência de algo puro; mas quando olhamos o amor por intermédio da ótica que mostra a característica de constância, faceta acondicionada ao tempo, podemos também atribuir ao amor a pureza - visto que a pureza é a plenitude do ideal. Enfim... Esse aí também errou.

É fácil notar que até agora não conseguimos definir o amor, a medida que tentamos facilmente nos perdemos em meio a conceitos e nas influências dos efeitos produzidos por ele. As duas tentativas que definiram o amor, como uma imbecilidade, e uma característica ridícula da vida, foram facilmente refutadas simplesmente utilizando os efeitos produzidos por ele.

É como no início foi demonstrado, falar dele é fácil, difícil é defini-lo. Quem sabe em outro momento tenhamos a maturidade de chegar a conclusão do que é isso, e por que é isso, e pra que existe.

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