Falar de amor pode ser uma das coisas mais fáceis para qualquer pessoa; seria possível passar horas e horas descrevendo as facetas do amor, justificando a necessidade de amar e audaciosamente demonstrando a insubordinação a qual nós estamos sujeitos. Mas o que ninguém conseguiria fazer, nem com mil anos de tempo, nem com o domínio de todas as palavras, nem muito menos com o auxílio de uma sofisticada matemática – levando em consideração a possibilidade de demonstração pelas vias da lógica - seria descrever o amor como ele de fato se apresenta e como o sentimos.
Descrever o ápice da embriaguez abstrata seria uma audácia que só poderia ser ansiada por um verdadeiro pedante. Mesmo assim é intrigante. O que é o amor? É aquela incontrolável necessidade do outro que parece mais uma rejeição de si mesmo e que só se farta quando o ser amado corresponde e dá sentido à palavra a que é atribuída essa sensação? É estranho por que na medida em que utilizamos as palavras elas soam vazias e insuficientes para descrever esse sentimento. Até a palavra “sentimento” é inapropriada. Talvez as palavras faltem, não existam para definir justamente por que o amor é um reflexo da nossa insuficiência; é um fato que se mostra quando nos enchemos de nós mesmos, na tentativa de completar o ego com uma natureza incompleta, e então... Ele se mostra e nos mostra que nós mesmos somos insuficientes no espaço fechado da nossa existência, e mesmo sem o nosso consentimento se faz real, e tão real que aperta o peito, faz um bolo na barriga e nos coloca diante da necessidade; faz-nos reconhecer que somos necessitados daquilo que amamos.
Mas... O que é o amor? O efeito provocado, tendo ele como uma causa mesmo que abstrata, é facilmente identificado como já vimos. Alguns foram indiferentes ao romantismo na tentativa de definir o amor, como Raul Seixas, que dizia:
Quem nunca ouviu a máxima que diz: “o amor é cego”. Rubem Alvez diz que, não é o amor que é cego, é a paixão. E eu concordo com ele. O apaixonado fica bobo, besta, cego, apedeuta, tosco e irracionalmente aéreo. O amor não, é sentido como um paradoxo entre a força da evidência do que se sente e da maleabilidade do sentimento ante as necessidades do ser amado; para suprir a necessidade que o amor possui de se doar, de expandir. Os amores não se contem em si mesmo, só acontece de um para o outro na condição de uma recíproca incontestavelmente verdadeira.
Há também os mais pessimistas, como o Cazuza, declarando:
“O amor é o ridículo da vida, agente procura nele uma beleza impossível, uma pureza que está sempre se pondo... Indo embora”
É fácil notar que até agora não conseguimos definir o amor, a medida que tentamos facilmente nos perdemos em meio a conceitos e nas influências dos efeitos produzidos por ele. As duas tentativas que definiram o amor, como uma imbecilidade, e uma característica ridícula da vida, foram facilmente refutadas simplesmente utilizando os efeitos produzidos por ele.
É como no início foi demonstrado, falar dele é fácil, difícil é defini-lo. Quem sabe em outro momento tenhamos a maturidade de chegar a conclusão do que é isso, e por que é isso, e pra que existe.
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