Porque uma flor vaidosa faz aninhos

sexta-feira, 2 de outubro de 2009 | |


Inspirado no vigésimo aniversário, que é hoje, de uma flor vaidosa.


Por mais que nos digam que a vida pode ser regida por um destino, que está previamente traçado pelas mãos divinas ou pelas leis do universo, a impressão que temos é que esse mesmo é insólito, e que quando vivemos a nossa própria vida a impressão é que trafegamos curva após curva sem saber o que vem pela frente. Acho melhor assim. Seria trafegar pelas vias das curvas ou pelas vias das dúvidas da vida?
Quando compreendemos que a vida é assim, cheia de dúvidas ou de curvas, aprendemos a ter paciência apenas por esperar que a dúvida seja satisfeita, e é essa paciência que precisa existir entre as pessoas. Compreendendo que as escolhas erradas são passageiras e que para a palavra dita há um pedido de desculpas precedente de um perdão; que para a pedra lançada há uma força tangencial à trajetória e outra centrípeta ao centro da curva que faz a pedra voltar para o mesmo lugar; e para a chance perdida, ahhh!! esta existem as dúvidas e as curvas - a paciência aliada à esperança de que na próxima teremos uma oportunidade semelhante.

Apesar de sentirmos na pele o estrago provocado pelo tempo, recebemos a compensação disso nos anos que deixamos pra trás, na experiência e na probabilidade de errar cada vez menos, porque as curvas e as dúvidas passam a ser mais conhecidas. Há uma beleza no envelhecimento provocado pelo tempo. Como dizia um certo poeta:

“...a alma é movida pela saudade.”

Então, o que seria da saudade se não houvesse o tempo? Como ficaria a nostalgia?

A alma não seria movida, ficaria parada sem o tempo para movê-la, perdendo assim o sentido de existir.
Cada ano completado, é um ano perdido, mas é impulso ganhado para a alma que cada vez mais vai sendo movida pelo sentimento da saudade, ganhando aquele bom alimento nostálgico que nos faz olhar para os anos que se passaram com vontade de voltar e viver tudo novamente, fazendo-nos concluir assim que, de fato, existir valeu a pena.



PORQUE MEU BEM FAZ ANINHOS
Carlos Drummond de Andrade

Porque meu bem faz aninhos
um raio de sol dourado
entrelaçou mil carinhos
pelo céu, de lado a lado.

Um ramo de beijos ternos
balançava sobre os ninhos
entre miosótis eternos
porque meu bem faz aninhos.

Porque meu bem faz aninhos
o rei, o valete, a sota
mais a fada e os anõezinhos
dançaram samba e gavota.

A nuvem mais cor-de-rosa
enfeitiçou-se de gatinhos
de bigode à Rui Barbosa
porque meu bem faz aninhos.

Porque meu bem faz aninhos
eu ganhei um chocolate
que tinha sete gostinhos
todos do melhor quilate.

Hoje eu brinco, pulo, canto,
assim como os passarinhos,
e mais eu canto me encanto
porque meu bem faz aninhos.

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