O que é o que é... A gravidade?

sexta-feira, 30 de abril de 2010 | |

Entrar na universidade aos onze anos e publicar uma tese de doutorado aos dezesseis parece impossível para lógica educacional convencional; mas não para a lógica do físico imaginário Sheldon Cooper no seriado The Big Bang Theory. Sua sistemática exacerbada aliada a sua perspicácia analítica ilimitada, ambas adoçadas com boas e concentradas doses de egocentrismo e soberba, o indicaram para o que chamamos hoje de o mais audacioso intento científico-teórico, e depois experimental, da história da ciência: O intento da unificação na física.
Talvez seja desnecessário divagar historicamente nas fases que resultaram no despontar do almejo de trazer à compreensão humana um caráter determinístico para o universo em seus eventos intrínsecos. No entanto, vale citar que foi na concepção quase completamente filosófica do matemático Laplace com seu princípio determinístico para os estágios do universo, que a física se inspirou a fim de tornar tangível à limitada cognição humana essa idéia que hoje oscila entre o pessimismo e o otimismo de um suposto êxito. Mas uma questão que me inquieta, e que parece não tocar o ego do Dr. Cooper, é a fundamentação epistemológica dessa tentativa; isso num sentido bem simplista, visto que não pretendo discutir sobre toda unificação, mas tomando dela um exemplo simples e prático de desacordo teórico, e ainda, a busca tendenciosa por querer enquadrar a realidade na vontade própria de que a mesma assim seja, ou seja, unificada, tendo na história pontos que indicam a consciência dessa possibilidade, mas que ficaram abafados pelo burburinho dos que trafegam por essas vias científicas. Esse desacordo está longe de ser corroborado pela retirada de um paradigma a fim de dar lugar a outro, como propõe Thomas Kuhn; será fácil perceber que é a busca pela retirada do paradigma idealista em função do paradigma sensualista, ou seja, materializando ainda mais o universo material, que fundamenta a vaidade inoculada na humildade fingida de que estamos soltos no acaso probabilístico quântico, porém, sozinhos na existência.
A evolução da compreensão da gravidade é um bom exemplo desse desacordo, por que nesse processo, está envolvido todo emaranhado teórico científico de teorias fenomenológicas e construtivas que tentam não só dar uma definição de gravidade, como também, quem (como entidade física) é responsável pela existência da mesma. Analisar essa evolução, por intermédio de uma ótica epistemológica tendo em vista o choque dos eventos físicos com as qualidades empíricas do observador, tem se mostrado um processo nada fácil, e por que não dizer impossível, para inteligência humana. Como assim demonstra à história da ciência que nunca, por intermédio humano, conseguiu dar uma explicação e definição da realidade das coisas existentes, os noumenon, a “a coisa em si”, as essências, seja lá qualquer terminologia dada à realidade em si, mas que para nós incontestavelmente é realidade aparente.
Como o problema da unificação da física se encontra na conciliação entre a matemática clássica do evento da gravidade (aparentemente evento do macrocosmo) e a matemática probabilística quântica do princípio da incerteza de Heisenberg (aparentemente limitado ao microcosmo), ao que parecem, os esforços tem se concentrado na tentativa de enquadrar a gravidade na idéia, e dar a ela uma roupagem matemática que torne possível tal unificação. No entanto, segundo o Dr. Sheldon Cooper da vida real, Stephen Hawking, o erro pode se encontrar tanto na teoria da relatividade como na teoria quântica, e em penúltimo caso, em ambas; então, o que se trabalhou nessa idéia até hoje não passaria de uma miragem, seja ela proveniente do universo ou então, da incapacidade humana, o que estaria perfeitamente enquadrado na evidência do distanciamento epistemológico que a ciência natural se proveu, dando lugar a auto confiança no ser em intelecto e experiência, resultando na aparente coerência entre ciência natural, naturalismo e materialismo. Em último caso, esses erros podem vir de Deus, como questionara Descartes; no entanto, essa premissa seria incoerente diante da concepção metafísica de Deus, que nada tem com o sádico cósmico que se deleita na apedeutíce humana, que é o deus que nos enganaria com esse erro.
Tudo começou...
Ao contrário do que pensam, a força gravitacional não foi parturiada na história fictícia de que uma maça caiu na cabeça de Isaac Newton. A existência da gravidade já havia sido promulgada por Galileu nas suas experiências com corpos rolando em planos inclinados, no entanto, foi por base na premissa de Galileu de que a natureza poderia ser descrita pelas vias matemáticas, que Newton deu à gravidade o adjetivo de força, fundamentando-a assim na posteriormente chamada mecânica clássica newtoniana, que ao contrário do que alguns pensam ser a confirmação ou complemento aprofundado das teorias de Johannes Kepler com sua gravitação universal, é um refutamento à descrição geométrica da trajetória dos corpos celestes como sendo elípticas. Para Newton, são quase elípticas.

É nítido que as facetas genuínas da entidade gravidade foram sendo forjadas afim de tentar estabelecer uma unificação. Vejamos a seqüência de idéias:

Por uma concepção mecanicista clássica de gravidade.

Força Gravitacional (Newton) - F = (G M/R²) m. Se g = G M/R² teríamos p = mg, onde M é a massa da terra; G é a constante gravitacional que é elevada a um fator menos onze; R é a distancia entre os corpos; m é a massa do corpo secundário; g a gravidade e p o peso do corpo no tratamento convencional.

Espaço-Tempo (Einstein) – Considera o espaço-tempo curvo, ou arqueado pela distribuição de massa e energia. Insere o conceito de “geodésica”, que é a menor distancia entre dois pontos no espaço-tempo quadrimensional, no entanto, se mostra curvo no tridimensional. Um bom exemplo é a trajetória da terra em torno do sol; a teoria prevê que a grande massa e energia do sol arqueiam o espaço-tempo de tal forma que a terra segue uma trajetória em torno dele sempre reta no espaço-tempo quadrimensional, porém, na nossa percepção tridimensional a trajetória é curva.

Por uma concepção mecanicista moderna de gravidade.

Supergravidade – A gravidade se origina a partir da combinação de uma partícula elementar de spin-2, chamada gráviton, com novas partícula de spins, 3/2, 1, ½ e 0. Um gráviton é emitido por um corpo e sendo absorvido por outro, resultando assim em uma interação gravitacional.

Teoria das cordas (Uma das pesquisas do Dr. Sheldon Cooper) – Propõe que uma partícula ocupa um ponto no espaço a cada instante do tempo, resultando numa linha no espaço tempo. Essa linha é justamente a corda que descreveria sua história no espaço-tempo como uma superfície bidimensional. A emissão ou absorção de uma partícula por outra corresponde à divisão ou reunião de cordas. A presença do gráviton se dá na formação de uma rede de “cordas” que ligam ambos os corpos envolvidos, ou seja, sua história no espaço-tempo formaria uma espécie de encanamento que ligaria os entes envolvidos na atração gravitacional.

Nem uma nem outra. Ou as duas juntas.

Teoria Quântica Gravitacional (TQG) – A gravidade seria formada por uma força residual ocorrida pelo mau balanceamento entre as forças nucleares e a força colombiana. De outro modo, a falta de simetria dos fenômenos eletromagnéticos atômicos resultaria na formação do espaço tempo em torno do átomo. Se esse fenômeno ocorrer em cada átomo, o efeito cascata é inevitável, formando a gravidade de um corpo macro.

Entre essas propostas, a única que não foi forjada a fim de ser testada na unificação foi a teoria newtoniana. Todas as outras possuíram um intuito tendencioso em que cada uma delas é demonstrada experimentalmente em alguns pontos, e em outros, simplesmente não funciona; é como se elas – e ao que parecem todas as teorias científicas são assim -, não passassem de leis-limites, no entanto, mesmo assim elas não conseguem ser complementares, ou até, em alguns momentos se conflitam entre si.
Não pretendo mostrar onde está a confirmação empírica e a exceção em cada uma delas, pois a questão que citei desde o início foi o direcionamento controlado por uma vontade em achar um resultado preconceituoso. Não precisa ser um filosofo do regimento da formação do conhecimento (que nem é explicado ainda) para perceber a falta de imparcialidade, ou, a falta de indiferença do observador que propõe um modelo para um dado evento. Este tem sido um dos primeiros postulados para a construção do conhecimento que, ao que me parece, é comum em todos os que trataram da questão epistemológica do pensamento. De Descartes com o exercício da dúvida, passando por Kant com seus limites estabelecidos à razão com a experiência, e ainda, sem citar mais outros, terminando em Hurssel invocando a psicologia em favor da inclusão do observador no evento na expectativa de universalizar o conhecimento forjado, as facetas supracitadas que estão faltando na proposta da unificação são mínimas diante da obscura questão da formação de um conhecimento genuíno; ou seja, ao que parece, estão querendo um fim maior com uma ferramenta que nem sabem como é em sua constituição inerente e nem o mínimo, que seria suas interações com outros entes.

Um físico new ager com sua holística esotérica não prejudicial a qualquer ateu materialista romântico, citado em outras postagens, chamado Frirjof Capra, se enquadra numa classe de cientistas que ele mesmo rotula de “os detentores do conhecimento supremo”, ou, “sacerdotes da natureza”. No entanto, esses “seres efêmeros”, mas “brilhantes”, muitas vezes soltam pérolas aladas que arrancam ovações dos mais leigos e deixam embasbacados os mais atentos. Stephen Hawking chegou a declarar que era preciso propor o que ele chama de um planejamento evolutivo. Segundo ele, é preciso direcionar a evolução humana para que o homem atinja graus mais elevados de intelecto, para que “coisas” presentes somente na ficção científica sejam inseridas na nossa realidade aparente em um futuro próximo. Chegou também a declarar, recentemente, que deveríamos parar de procurar por vida inteligente extraterrestre, pois há uma possibilidade de nossos “vizinhos” serem zangados e virem até nós comer nossas lavouras e depredar nosso planeta.
É lamentável ter de aceitar que Hawking propõe tais idéias diante do “nosso conhecimento de que ele tem conhecimento” de causa em questões que o impediriam de pensar assim. Inclusive, que impedem por que contradiz o que o mesmo já disse em obras publicadas. Para a primeira citação dele convém aludir ao conhecimento que ele mesmo tem das chamadas variáveis não-locais que influenciam os eventos das partículas elementares. Essa interpolação para o mecanismo evolutivo é lógico diante do nosso desconhecimento dos estágios naturais do nosso planeta, e ainda, dos fatores que direcionaram a suposta “não causalidade” à realidade conhecida e que foi registrada ao longo das eras. Quanto a segunda, é apenas uma declaração com o propósito de focalizar a mídia para si aproveitando da sua posição catedrática de sucessor de Newton na universidade de Cambridge. Hawking argumentou acerca do princípio antrópico em outras declarações com direito a fundamentação científica.
O parágrafo acima serviu apenas para demonstrar que, considerar qualquer declaração ou proposta de modelo para a realidade tendo em vista o quilate do sujeito que propõe, não o isenta das implicações epistemológicas impostas a sua proposta. E essas implicações se encaixaram bem no campo da unificação; talvez seja por isso que alguns são pessimistas quanto ao êxito da unificação, e eu diria, que isso se dá por causa dessa despreocupação com o que se pesquisa.
Esse post não teve intenção de propor um reparo a esse problema, até por que nenhum filósofo do conhecimento (coisa que não sou) conseguiu preencher tantas lacunas no que diz respeito às vias de construção do conhecimento. Particularmente, talvez por falta de conhecimento de causa, ainda não fui convencido de que nenhuma delas conseguiu propor um mecanismo satisfatório e confiável de se adquirir conhecimento. Continuo acreditando que a natureza é imperscrutável no que ela é de forma cabal. No entanto, a tão pedante ciência natural que deu ao homem o auto coroamento de entendedor da natureza, fez com que Wittgenstein declarasse que depois da ascensão quântica, só caberia a filosofia tratar o problema da linguagem. Fico sem entender o motivo de toda nossa soberba. Putz !!

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